Além das Ondas por Dário Costa

Os destinos mudam, mas a expectativa permanece sempre a mesma. Eu conseguiria contar em uma única mão as viagens a lazer que não foram aquelas em busca das ondas, fazendo escalas intermináveis, carregando sarcófagos enormes, muitas delas para lugares inóspitos com pouquíssima infraestrutura, dormindo em qualquer superfície plana que se encontrasse pela frente. Demorei um tempo para lidar com a frustração que é um tiro errado atrás de um swell que não se concretizou, ou quando as condições climáticas não conspiraram ao meu favor.  Não vou mentir que até hoje sinto quando a qualidade ou tamanho das ondas ficam abaixo das expectativas. Faz parte deste estilo de vida que adoto desde pequeno e ao qual sou muito grato.

O surfe sempre me ensinou muita coisa, lapidou minha personalidade e meus valores, enriqueceu meu conhecimento sobre a natureza, sobre desafios de superação, além de proporcionar conhecer lugares inimagináveis e criar amizades verdadeiras ao redor do mundo.

Com o passar do tempo e a paixão pela minha profissão crescendo, foi através da cozinha que comecei a abrir os olhos e enxergar além do objetivo principal que me fez dar tantas voltas ao mundo. Quando falamos de gastronomia, não falamos apenas de comida. Falamos de cultura, de clima, de solo, vegetação, falamos de rituais, falamos de mar, ar e terra. Não nos delimitamos a falar como uma comunidade se criou, mas sim de como a humanidade surgiu. Por essas diversas janelas, aprendi a olhar como uma oportunidade não só de aprender mais sobre a cozinha, mas também de entender um pouco mais sobre as pessoas, sobre o mundo.

Por esse meio aprendi a diminuir as expectativas que obviamente são impossíveis de não serem criadas, aprendi a controlar melhor a ansiedade e de me entreter com sabores, aromas, histórias e visuais que apesar de estarem diretamente conectados com meu propósito principal, estão muitas vezes além das ondas. No fim, essa receita quase sempre termina como uma boa surpresa. Independente disso, quando lembramos de um lugar e tudo aquilo que vivemos, fechamos os olhos e conseguimos imaginar o gosto, o cheiro, o sentimento de que valeu a pena.  E se pegamos altas ondas ou não, as vezes, já não importa mais tanto assim. Talvez eu só esteja amadurecendo mesmo!

Por: Dário Costa

 

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