San Felipe 250

San Felipe é uma pequena cidade localizada na Costa Leste da península de Baja California. Uma charmosa vila de pescadores Mexicana que sempre aguarda com calma o evento mais esperado do ano, o Score San Felipe 250. Essa corrida é a primeira rodada do Campeonato Mundial de Corridas no Deserto (World Desert Racing Championship) e serve de abertura paro o sinistro Baja 1000.

A semana que antecede a corrida tem um fluxo constante de caminhões carregando bugies, motos e caminhões de troféus para a vila. As crianças de lá correm para verem seus heróis pilotos, pacientemente aguardando por autógrafos e adesivos. Os pais da região puxam suas cadeiras na Malecon, com um cooler cheio de cervezas geladas, para assistirem as máquinas absurdas que hoje participam das corridas off-road.

Meus dois melhores amigos, Ciaran Naran e Nick Lapaglia, e eu, geralmente ficamos felizes em apenas descansar na beira mar, bebendo Mai Tai´s ou brincando com nossas máquinas de duas rodas vintage que tenho no meu rancho. Mas de vez em quando temos a ideia louca de nos testar em algum evento, daqueles que só podem ser descritos como os mais brutais eventos de corrida no deserto da América do Norte.

Então fizemos algumas ligações. E isso nos levou a pegar Husqvarnas FE501 novinhas, com todos os melhores acessórios e peças das nossas marcas preferidas e dos nossos queridos patrocinadores. Com esse kit, montamos boas moto e nos registramos para a San Felipe 250 desse ano.

Junto com as outras equipes, enchemos nossa van com tudo aquilo que poderíamos pensar para enfrentar uma corrida, apertando tudo e deixando espaço suficiente apenas para fechar as portas.

Bom, quase tudo... No fim das contas as motos que encomendamos da Husqvarna não chegaram a tempo. O percurso da corrida “Pre-Running” é crucial quando se está correndo em Baja. Isso dá ao piloto a oportunidade de se familiarizar com seu trecho na corrida, traçar estratégias de locais específicos para pit stop, definir pontos para veículos de apoio, etc, etc, etc. Sem tempo a perder, eu resgatei minha Honda de confiança, já preparada para o Baja 1000 de 2019, Ciarran pegou emprestada a moto de um amigo muito generoso e o Nick tirou o pó e teias de aranha da moto do seu pai, uma KTM 525 2007, carinhosamente apelidada de “Peterbilt”, um tanque de guerra perto das motos modernas. E como já estamos acostumados a fazer, rimos e tiramos o melhor da situação. Afinal de contas, estamos pilotando no México, como não curtir?

Como não curtir? Bom... essa parte você só entende quando está lá no circuito de San Felipe. E não se deixe enganar pela curta distância, a corrida de San Felipe é uma das mais duras e perigosas do ano. Intermináveis costelas, solavancos, pedras e cactos. Com todos esses obstáculos sempre a um piscar de olhos de acabar com o seu dia. Em pouco tempo as motos emprestadas dos caras começaram a mostrar sua falta de preparo e idade. Uma transmissão defeituosa na moto de Ciaran se manifestou, seguida de um rolamento de roda estragado na Peterbilt e isso foi apenas o segundo dia... Imagina só, se juntassem as duas motos não daria meia moto, e mesmo assim Ciaran e o Nick fizeram acontecer. E isso prova o espirito aventureiro desses caras. Ou talvez eles estivessem pensando que uns dias se arrebentando no deserto do Mexico poderiam render umas boas histórias pra contar algum dia no bar.

Eu comecei a corrida e rapidamente entreguei a moto para o Ciaran na primeira milha. Nós estávamos na liderança, Ciaran segurou essa posição até a trigésima milha. Mas enquanto rasgava a trilha a mais de 100 KMPH, uma pedra marota apareceu de baixo da areia, mandando o Ciaran pelos ares de maneira espetacular. Ele bateu forte no chão, perdeu a consciência e a liderança. Com o seu ombro esquerdo deslocado e a cabeça confusa por conta da pancada ele levou um bom tempo para se recuperar. Nesses momentos que a garra e a determinação são cruciais. Enquanto nossas chances de vencer estavam praticamente acabadas, o espirito dos pilotos do deserto ansiavam para completar a prova, e isso por si só já é metade da batalha. Ciaran conseguiu colocar seu ombro de volta no lugar, se recompôs e tocou as próximas 16 milhas até o seu primeiro pit stop. Um grande feito, só aqueles que sabem poderiam compreender.

A moto sofreu muito com a queda. As peças estavam todas penduradas ou quebradas. O freio dianteiro vazou fluido de freio e os para-lamas, tanto dianteiros como traseiros ficaram destruídos. O sub quadro estava quebrado, a lanterna traseira e o farol estavam pendurados pelos fios. A roda dianteira, que sofreu o impacto inicial, estava toda ovalizada. E para nosso desespero, o rastreador com GPS tinha sumido, provavelmente esfarelado no chão do deserto.

A equipe de pit stop (o pai do Ciaran, sua irmã e um incrível Mexicano local) e eu, chegamos no pit stop 1 e metemos a mão na graxa, remontando a moto para deixa-la andável novamente. Nós perdemos um bom tempo, mas deixamos a moto digna das 230 milhas restantes para a chegada; eu e o Nick realmente fizemos isso. Conquistando cada milha até a chegada. Não foi como o planejado, longe disso, mas no final da corrida ficamos em sexto lugar na categoria Pro Moto classe ilimitada.

Claro que ficamos longe das motos de ponta, mas também não fomos os últimos. Tiveram aqueles com um dia mais desafiador que o nosso. O deserto é inesquecível e tirou de nós tudo o que tínhamos a oferecer. Surpreendentemente, nunca me senti tão motivado para voltar no ano que vem e juntar mais algumas histórias para contar.

Fotos pelos impressionantes Ed West & Mounce. 
Texto por Forrest Minchinton

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